ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

31.10.05

Sonhos de futuro

Há 25o anos, Lisboa tremeu com um terramoto cujas ondas se fizeram sentir ainda, por exemplo, no Algarve e Marrocos. O tsunami que se lhe seguiu foi sentido desde África à Finlândia, Martinica e Barbados.
Os números apontam entre 15 a 90 mil mortos (de uma população de 275 mil) e cerca de 80% das construções destruídas.
Mas o terramoto foi, à época, mais que um fenómeno da natureza. A capital de um reino católico, com um largo esforço de evangelização nas suas colónias, destruída no dia de Todos os Santos, em que a população se encontrava concentrada nas igrejas, durante as suas preces, significou um abalo filosófico, político e religioso.
Creio que ainda hoje as ondas do terramoto de 1755 se fazem sentir por todo o país. A sua população continua náufraga de um sonho e tarda em encontrar-se, a si mesma e à sua identidade.
Da nossa história, faz parte termos sido descobridores e aventureiros. Falta descobrirmo-nos a nós próprios. E aventurarmo-nos no nosso futuro. Sonhando-o para que ele possa ser.

27.10.05

Saramago

E aqui estou eu esperando o novo livro de José Saramago. Pareço aqueles miúdos que sonham com a publicação da nova história de Harry Potter. E eu, que não compreendo essa histeria, acabo por verificar que comigo ocorre um fenómeno similar, não esperando o Harry Potter mas Saramago.
Há alguns anos atrás dei por mim a pensar que, por força dos estudos, lia só praticamente autores ingleses e alemães. Decidindo quebrar o divórcio forçado com a literatura portuguesa comprei uma edição de Memorial do Convento. E a partir daí não mais parei. Livro após livro fui confirmando a minha opinião: José Saramago é um dos melhores escritores portugueses e mundiais.
Há já alguns anos que um dos meus presentes de aniversário é um livro de Saramago, acabadinho de sair da reprografia embora tenha de esperar três dias pois, por norma, o escritor lança os seus livros no dia do seu aniversário que acontece três dias depois do meu.
Como sempre, espero ansiosamente o livro para o ler de uma assentada. Não tenho dúvidas que acontecerá o mesmo com este. Será sobre a morte que, cansada de ser odiada pelo ser humano, se recusa a "aparecer". Durante algum tempo é uma festa na Terra até que a morte decide voltar e de uma forma muito particular.
Já só faltam alguns dias para eu ter o livro na mão. E um brilho nos olhos. Tal como os miúdos do Harry Potter.

21.10.05

Outono

O outono visto do meu quarto.

17.10.05

Espaços interpretativos

Lynn Johnson, in National Geographic
"As imagens não são conjuntos de símbolos com significados inequívocos, como o são as cifras: não são "denotativas". As imagens oferecem aos seus receptores um espaço interpretativo: são símbolos "conotativos".
Ao vaguear pela superfície, o olhar vai estabelecendo relações temporais entre os elementos da imagem: um elemento é visto após o outro. O olhar reconstitui a dimensão do tempo. O vaguear do olhar é circular: tende a voltar para contemplar elementos já vistos."
Vilém Flusser, Ensaio sobre a fotografia

13.10.05

Terapias musicais

Quando...
Quando nos levantamos de manhã
e sentimos que é apenas mais um dia
quando saímos de casa
e sentimos que vamos sozinhos
porque o ânimo e o sorriso ficaram a dormir
quando nos perguntamos continuamente porque continuamos no nosso posto
quando nos apetece gritar de tanta impotência e raiva
mas sentimos que nem esse esforço vale a pena...
quando os silêncios são já demasiado ruidosos no nosso interior...
a música vem e abre a concha onde nos podemos esconder...
e então os nossos ruídos passam a ser serenos e pacíficos novamente.
(escrito ao som da banda sonora (Michael Nyman) de O Piano

10.10.05

Dia Mundial Contra a Pena de Morte

(Amnistia Internacional)
Celebra-se hoje o Dia Mundial contra a pena de morte. Em África (à qual se refere a imagem da Amnistia Internacional) utiliza-se a pena de morte para, por exemplo, punir mulheres que abortaram. Na China, para punir os cidadãos que roubaram. Os motivos são sempre variáveis de país para país. Como se a vida humana fosse algo também variável. Contudo, a vida humana é só uma.

8.10.05

Actos de cidadania

Dizia-me esta semana um colega de profissão que há 10 anos que não vota. Dez anos!!! Fiquei a perguntar-me como é possível um cidadão demitir-se assim durante tanto tempo de participar na vida política do seu país. Sinal de que a política, ou os políticos, não andam a cumprir a sua função? Certamente. Mas, não exercer um direito, que é também um dever, parece-me um desrespeito, uma afronta, um insulto por todos aqueles que lutaram e deram a sua vida, ou parte dela, para que as gerações futuras exercessem, em liberdade, um acto tão supremo como escolher os seus governantes. E, no caso de um professor, essa afronta é ainda maior. Porque compete-lhe participar na formação cívica das gerações que prepara.