ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

27.7.05

Prisioneiros em liberdade

Cartoon de Steve Bell, The Guardian
Os recentes acontecimentos de Londres fazem-me concluir que uma vitória deve ser atribuída ao terrorismo: a de fazer de todos nós prisioneiros em liberdade. Somos prisioneiros do medo, prisioneiros da vigilância, prisioneiros da protecção que em último caso nos pode custar a vida porque se vive no prédio errado, se tem os amigos errados, se fala a língua errada ou se veste o casaco errado. Dizia Amin Maalouf que "quanto mais numerosos e livres são os actores da História, mais complexa é a resultante dos seus actos, mais difícil de abarcar, mais rebelde às teorias simplificadoras". Será que, sob a capa protectora da luta ao terrorismo, não está em curso um movimento de anulação do indivíduo e das suas vontades? O futuro tem a palavra.

22.7.05

O grito

O Grito, Edvard Munsch

No País dos Sacanas

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glandulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência,
a justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena

8.7.05

Poema do Coração

Poema do coração. .. a propósito de Londres.
Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração, e a Sinceridade, e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração. Então poderia dizer-vos: "Meus amados irmãos, falo-vos do coração", ou então: "com o coração nas mãos."
Mas o meu coração é como o dos compêndios, Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral) e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos). O sangue ao circular contrai-os e distende-os segundo a obrigação das leis dos movimentos.
Por vezes acontece ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados, e uma lâmina baça e agreste, que endurece a luz dos olhos em bisel cortados. Parece então que o coração estremece. Mas não. Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático, que esse vento que sopra e que ateia os incêndios, é coisa do simpático. Vem tudo nos compêndios.
Então, meninos! Vamos à lição! Em quantas partes se divide o coração?
António Gedeão

7.7.05

London

Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

2.7.05

Live8

Kevin Coster
Será necessária mais alguma razão para assinar a petição?