ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

23.2.07

Recordando

No céu cinzento Sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Zeca Afonso

1.2.07

Felicidade

E, de repente, não mais que de repente, como dizia o poeta, os nossos olhos brilham de alegria. Ele falava com uma pronúncia perfeita, um à vontade quanto baste e uma delicadeza invulgar. A sua competência comunicativa e o vocabulário diversificado faziam esquecer os pequenos deslizes gramaticais. O facto de ter apenas 11 anos, de estar a falar em inglês e de ter aprendido a língua lendo os livros de escola da irmã conferem à situação algo de irreal e de surrealista.
Vim para casa com um sorriso nos lábios e o coração mais quente.