ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

17.1.05

Verbum

Verbum, Escher
Tremendamente cerebral, assim me define um amigo. O racionalismo, de facto, caracteriza, grande parte da minha personalidade. Mas os meus olhos, seguramente suspeitos, vêem também uma personalidade emotiva, de lágrima fácil, especialmente no que se refere à dor. Dos outros, entenda-se. Porque quanto à minha própria dor, o racionalismo domina-a e encarrega-se de a acomodar num cantinho onde eu a possa tratar por tu. Protecções que a gente vai criando para nossa defesa.
A sensibilidade à dor dos outros tem-me levado ultimamente a estar com eles nas suas despedidas de entes queridos. E é dessa forma que me tenho visto ultimamente a visitar a igreja mais do que desejaria. E desenrola-se então uma luta de que sou actriz e espectadora. A actriz tenta manter a compostura solidária e a boca fechada. Esta é quase uma luta titânica uma vez que o peso da cultura nos faz recordar aquelas lengalengas que aprendemos em pequenos. Cada palavra, cada frase, cada expressão da missa, dos crentes ou do padre despertam a minha interpretação. E o seu resultado coloca-me cada vez mais longe do reino dos céus. Conscientemente. Assumidamente.