ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

3.1.05

Sobre os números

Gutenberg relata no seu livro "A justificação de Gutenberg" a raiva do velho monge do mosteiro de S. Viktor quando escreveu os números em árabe. "Língua infiel", dizia o irmão Benedict, "obra de Satanás". Impunha-se a escrita dos números romanos. Gutenberg pergunta então como se escreve o zero. Que não existia, retorquia o irmão, pois "no universo de Deus tudo está vivo e habitado, até mesmo o Inferno. Não há nunca nada". Num exercício de matemática lógica, Gutenberg pergunta como escreveria o resultado da multiplicação de 3 por 10. Escrever-se-ia IIIX? Claro que se escreve XXX, diz o monge. E oitenta são oito cruzes em vez de um oito e um zero? pergunta Gutenberg que tenta levar Benedict ao desespero. Este termina mandando-o calar pois na sua opinião os alunos não deviam falar mas escutar. De preferência, hirtos de medo. Na sua opinião, todos estavam condenados: homens, mulheres e crianças. E sentenciava os seus alunos com o Juízo Final: "E o mar subirá uma trintena de metros acima das montanhas como um muro gigantesco. E as árvores exsudarão um orvalho de sangue. E os tremores de terra deitarão por terra os homens, e os edifícios tombarão".
O irmão Benedict certamente que teria hoje alguma dificuldade em traduzir nos seus números romanos toda a tragédia asiática.