ruido silencioso

Palavras soltas de um ruído silencioso

23.9.04

Coração (Im)perfeito

Periodicamente, levo o meu coração à revisão. Não é que ele se tenha queixado ultimamente, mas é sempre bom dar atenção a estas coisas. Especialmente ao coração, que por norma é sensível se começa a sentir-se descuidado pelo seu dono(a).
Desta vez foram dois exames. Quanto ao primeiro, bem podia ter levado o fato de treino e aproveitava para o jogging semanal.
Quanto ao segundo exame, saiu-me um médico altamente profissional e competente. Daquelas pessoas que em cada frase ou explicação denunciam o seu amor pela profissão e pela matéria a que se dedicam. Notava-se que o exame não era apenas mais um do seu dia de trabalho e foi fazendo a leitura do meu coração. Nada de explicações técnicas. E excedeu-se no exame e na leitura quando observou o meu interesse em perceber. Se já é estranho ver o nosso interior, neste caso, o coração, num ecrã de computador, então o som da entrada e saída do sangue soa a música rara. Mais mais perturbador é ouvir alguém falar do nosso coração como um amigo, como se o conhecesse de há muito tempo: esta membrana que não deveria estar aqui, esta válvula que de vez em quando a deve deixar em pânico, etc.
Reconheço que, por momentos, receei que entrasse na parte mais sensível do coração e fizesse o diagnóstico dos meus amores, das minhas amizades ou, quem sabe, dos meus pequenos ódios.
Felizmente, a tecnologia ainda não alcançou esse reino.
Na próxima revisão, faço um backup dos ficheiros mais delicados e deixo-os bem guardados em casa. Não vá aparecer um médico mais dotado em tecnologias.